Anais de Filosofia Clássica
ISSN 1982-5323
Os Anais de Filosofia Clássica publicam semestralmente textos de filosofia clássica submetidos ao seu conselho editorial internacional e trabalhos selecionados apresentados nos seminários e simpósios do Laboratório OUSIA de Estudos Clássicos da UFRJ e seus parceiros.
Os manuscritos são submetidos à avaliação cega de pares.
Principal via de discussão filosófica e filológica do Laboratório OUSIA junto a centros de pesquisa em filosofia e filologia clássica de universidades em vários países, a revista visa integrar em sua linha editorial os rumos e resultados desta colaboração.
v. 13, n. 26 (2019): DIONISIACA I
DIONISIACA I: Sabedorias Órfico-DionisíacasNa Grécia antiga, Demeter e Dioniso – divindades dos cultos agrícolas ligados respectivamente ao cultivo do trigo e da vinha – estavam associados a uma sabedoria de natureza iniciática, capaz de dar acesso aos segredos da vida e da morte. Em Atenas, ao longo do período clássico, os festivais de Dioniso convidavam as artes da música, da poesia e do teatro em momentos importantes para a produção de vinho. Neste contexto, usando máscaras, celebrava-se a essência do conhecimento dionisíaco: o devir universal e a transmutação da vida.
A poucos quilómetros a oeste de Atenas, no santuário de Eleusis, terreiro sagrado da sabedoria grega, Demeter e Dioniso velavam juntos a celebração anual dos mistérios, depois de terminada a colheita. Ancoradas em todo o mundo grego, as sabedorias órfico-dionisíacas eram praticadas por poetas e músicos, como Orfeu, o cantor mítico habituado ao trasmundo, que através do seu canto conseguia despertar à vida os substratos da natureza; e também pelos antigos sábios do Mediterrâneo, como Pitágoras, Heráclito e Empédocles. Até hoje, pensadores como Friedrich Nietzsche ou Giorgio Colli encontraram nesta cultura os instrumentos indispensáveis para repensar e renovar a modernidade.
Os artigos apresentados no número 26 dos AFC pretendem contribuir para a reflexão sobre as sabedorias órfico-dionisíacas, através de uma exploração das suas formas: teatro, poesia e filosofia, seguindo o fio encarnado representado pela figura de Dioniso e por sua bebida sagrada: o vinho.
Três artigos tratam da presença de Dioniso no teatro: L. Buarque (PUC, Rio) propõe uma análise original da dimensão política do dionisismo cômico através de uma leitura dos Acarnenses de Aristófanes; A. Vannucci (UFRJ) examina os aspectos dionisíacos de certas máscaras da Commedia dell’arte, que atravessam as fronteiras entre o mundo dos mortos e o dos vivos; F. La Mantia (Università Korè, Enna) realiza uma leitura comparativa das Bacchae de Wolè Soyinka, que destaca a dimensão intercultural das diásporas mediterrânea e atlântica.
Três contribuições tratam da presença do vinho na poesia, na filosofia e no mito: V. Andò (Universidade de Palermo) fala sobre a poesia grega arcaica, cuja inspiração veio do vinho e de Dionísio e não da água e das Musas; G. Casertano (Universidade Federico II, Nápoles) fala sobre o tema do vinho no pensamento platônico; e F. Santoro (UFRJ) oferece uma leitura alegórica do mito órfico do esquartejamento de Dioniso, reconectando-o aos ritos e festividades que acompanham a produção do vinho.
Dois outros artigos discutem os mitos dionisíacos e suas interpretações: G. Burgio (Università Korè, Enna) analisa a articulação entre o mito de Dioniso e o mito de Tirésias nas Bacantes de Eurípedes, com base no arquétipo da androginia; C. Santaniello (Liceu Sócrates, Roma) analisa um episódio bem conhecido da saga de Dionísio, evocado na Ilíada, quando foi perseguido pelo rei Licurgo.
As duas resenhas que se seguem estão também ligadas ao tema principal da edição: Clémence Ramnoux, Œuvres (Encre marine/Les Belles Lettres, 2020) de F. Montevecchi (pesquisadora independente, Bologna) e Giorgio Colli, Empedocle (Adelphi, 2019) de R. Saetta Cottone (CNRS, Centro L. Robin).
A maioria destes textos foi apresentada como parte da Dionisíaca, primeiro festival de sabedorias órfico-dionisíacas, em Sambuca, Sicília, em setembro de 2018. Organizado conjuntamente pelo Centro Leon Robin da Sorbonne e pelo Laboratório Ousia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o generoso apoio de vários agentes locais, este festival propõe celebrar, durante o período da vindima, as artes da produção vinícola, do teatro, da poesia e da filosofia, através de uma participação artístico-ritual na vindima, de um simpósio e de vários espetáculos teatrais. Interrompido em 2020 devido à pandemia, deverá ser retomado, oxalá, em 2021. Em homenagem ao povo de Sambuca, publicamos a tradução da fábula de Antonella Maggio: O Fantasma de Zabut, uma história de aventuras para ensinar às crianças os valores da diversidade cultural, da hospitalidade e da liberdade.
Esta edição celebra o multiculturalismo com artigos em várias línguas (português, francês, italiano), traduções, textos bilíngues e trilíngues e um artigo de dupla edição, com a sua versão em inglês na revista Mantichora: http://ww2new.unime.it/mantichora/.
As fotografias da Dionisiaca que ilustram o sumário são de Maria da Graça Gomes de Pina.Aproveitamos esta publicação para agradecer calorosamente aos nossos patrocinadores: Di Prima Vini; Teatro L'Idea; Karma s.r.l.; Le Strade del vino; e aos nossos apoios institucionais: Comune di Sambuca di Sicilia (Italia); Capes (Min. da Educação do Gov. Brasileiro) e Cofecub (Min. das Ciências do Gov. Francês).
Editores deste número:
Fernando Santoro
Rossella Saetta Cottone
Sumário
Artigos
Luisa Severo Buarque de Holanda 1-18
Alessandra Vannucci 19-41
Fabio La Mantia (aut.), Luisa Severo Buaque de Holanda (trad.) 42-59
Valeria Andò 60-71
Fernando José De Santoro Moreira 72-87
Fernando José De Santoro Moreira 88-104
Giuseppe Burgio 105-141
Carlo Santaniello 142-155Traduções
Giovanni Casertano (aut.), Maria da Graça Gomes de Pina (trad.) 156-172
Antonella Maggio (aut.), Paolo Mannina (apres.), Rossella Saetta Cottone (apres.), Fernando José De Santoro Moreira (trad.) 173-186Resenhas
Rossella Saetta Cottone 187-195
Federica Montevecchi 196-202
Federica Montevecchi (aut.), Rossella Saetta Cottone (trad.) 203-209v. 13, n. 25 (2019): Movimento em Aristóteles II
Giovanni Borelli.
De Motu Animalium. (Roma: A. Bernabo, 1680)2018
v. 12, n. 24 (2018): Movimento em Aristóteles I
Giovanni Borelli.
De Motu Animalium. (Roma: A. Bernabo, 1680)v. 12, n. 23 (2018): Mulheres míticas
EDVARD MUNCH, Madonna, 18942017
v. 11, n. 21 (2017): Platão e Homero - I
Odisseu e as Sereias2015
v. 9, n. 17 (2015): Aristóteles e Parmênides
ARISTÓTELES2014
v. 8, n. 16 (2014): Platão e as formas
LISSITZKY1920v. 8, n. 15 (2014): Platão, predicação e ontologia
Estátua de Platão na Academia de Atenas2013
v. 7, n. 14 (2013): Estoicismo
Detalhe de retrato de Epicteto, por Anton Raphael Mengs (1754- 1756)2012
v. 6, n. 12 (2012): EMPÉDOCLES II
Jean Bollack em Cérisyv. 6, n. 11 (2012): EMPÉDOCLES I
Jean Bollack (1923-2012)2011
v. 5, n. 10 (2011): PLATÃO E O TEATRO
Cena de O Banquete, montado pelo Teatro Oficina
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